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Falta de mecânicos preocupa

Falta de mecânicos preocupa

Por Weslei Nunes e Cléa Martins

A falta de mão de obra no setor de reparação tem sido uma das reclamações mais recorrentes entre os proprietários de oficinas automotivas nos últimos anos. Os mecânicos estão “sumindo” do mercado de trabalho, e, com isso, deixando uma lacuna que ninguém sabe como preencher nem a qual proporção o problema poderá chegar. 

O que tem provocado esse cenário é a pergunta comum do setor, mas muitas são as respostas. Afinal, diversas questões têm contribuído para este cenário, que não é exclusivo da reparação. Vários outros setores do País têm sofrido com a falta de mão de obra. O programa Mais Médicos do governo federal, que trouxe médicos estrangeiros para suprir uma demanda nacional na área da saúde e foi motivo de polêmica, é a prova mais concreta disso. E não para por aqui. Faltam engenheiros, professores, cientistas, pedreiros, entre tantos outros profissionais dos mais variados ramos. 

Exclusivamente na reparação automotiva, as condições de trabalho, a baixa remuneração e a exigência por atualização constante são alguns dos itens apontados por Evangelista dos Santos, presidente do Sindmecânicos (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias e Oficinas Mecânicas de Joinville [Santa Catarina] e Região), como influenciadores diretos da evasão da mão de obra. “Na questão salarial, o grande problema é que os mecânicos estão investindo em cursos de aperfeiçoamento [para acompanhar a rápida evolução da tecnologia veicular], mas não estão recebendo retorno disso. Hoje, enfrentamos uma verdadeira luta por melhor salário e o máximo que os empresários querem oferecer é aumento de 1,5%. Há 13 anos vivo essa mesma luta. Além disso, o reparador, na grande maioria, não tem condições adequadas de trabalho, apesar da fiscalização hoje ser maior”, diz o sindicalista. 

O representante dos reparadores catarinenses explica que as negociações entre funcionários e donos de oficinas acontecem sempre com base em ações passadas, ou seja, o que se negocia é a amortização dos investimentos que os mecânicos fazem para atualização profissional. “Por isso, temos reivindicado que os empresários participem da formação e atualização do mecânico. Mas essas negociações são extremamente difíceis, por conta do perfil do setor reparador: formado [majoritariamente] por micro e pequenas empresas”, argumenta. 

O proprietário da oficina Megacar, José Natal da Silva, também vê a questão da necessidade de qualificação constante como um dos grandes desafios para o profissional reparador. “Por esse motivo, acho que os mecânicos precisam focar uma única marca ou determinada tecnologia e se especializar apenas nisso, uma vez que o número de modelos de veículos é crescente no Brasil”, opina. 

O empresário chega a essa conclusão baseado em um nítido crescimento da segmentação das oficinas mecânicas. Segundo ele, as chamadas monomarcas estão entre os negócios mais seguros e rentáveis hoje no mundo da reparação. “Com isso, o mecânico especialista em determinada marca ou tecnologia terá uma área como foco de trabalho e o empresário, por sua vez, poderá contribuir com a qualificação dos seus funcionários em um único segmento”, explica Natal. “Hoje, se eu fosse abrir um novo negócio certamente abriria uma oficina monomarca”, complementa.

A ideia do dono da Megacar é boa, mas o próprio Natal reconhece que existem alguns entraves que reduzem a atratividade pela segmentação do setor. “Comercialmente, adotar o sistema de atendimento monomarca tem suas vantagens e desvantagens. As vantagens, como disse anteriormente, é o foco bem definido que a empresa passa a ter. A desvantagem é a limitação do mercado, por exemplo: muitas vezes o cliente possui dois carros, de marcas diferentes, nesse caso o empresário perde a chance de atender completamente o cliente, já que só faria a manutenção de um dos veículos”, exemplifica. “Mas eu ainda acho que as vantagens das monomarcas são maiores que as desvantagens”, conclui.

É por experiência própria que Natal chega a essa conclusão. Segundo o empresário, sua empresa enfrenta hoje a necessidade de mão de obra, no entanto, por ser uma oficina de mecânica em geral precisa de profissionais com bom nível de conhecimento. “Nós [da Megacar] já estamos há 23 anos no mercado. Tornar-se monomarca a essa altura não seria um bom negócio”, explica.

Leilão do profissional

Quando questionado se não seria interessante a própria oficina formar profissionais, Natal explica outro desafio do setor: manter o profissional na empresa. “Já aconteceu [na Megacar] de contribuirmos com a qualificação de funcionários e depois os perdermos para montadoras e concessionárias. São empresas grandes que levam vantagem na disputa pelo profissional. Elas conseguem oferecer o que [nós, pequenos empresários,] não conseguimos. Para que nós ofereçamos o mesmo que uma dessas grandes empresas, o profissional precisaria render muito”, diz. 

Para Ailton Fernandes, instrutor do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), o que acontece hoje com o mercado de trabalho no setor de reparação é um desinteresse pela continuidade na profissão de mecânico. “As pessoas estão usando a mecânica como alavanca para chegarem a outras carreiras profissionais. Elas usam a mecânica justamente por ser um dos setores atuais que mais precisam de mão de obra, logo, trata-se de um mercado seguro. Não falta emprego. Isso dá a segurança que elas precisam para chegarem a seus objetivos. Digo isso com base em conversas que tenho com alunos. Eles sempre têm um ideal que vai além da reparação”, conta o professor. 

Como atrair mão de obra

Como a falta de mão de obra atinge não só o mercado independente de reparação, mas também montadoras, concessionárias e redes especializadas, fica difícil empresas de menor porte disputar com as gigantes da indústria. No entanto, existem pequenas ações que podem contribuir para maior atratividade da mão de obra, como, por exemplo, oferecer boas condições de trabalho. “Não há uma receita do que fazer para atrair mão de obra, mas as condições de trabalho são fundamentais para manter e atrair o mecânico”, diz Fernandes. 

Direitos e deveres claros, garantias de segurança e boa estrutura física do local de trabalho são as mínimas coisas que um profissional espera e precisa para atuar bem em qualquer função.

Mas o que de fato pode ser um diferencial, segundo o instrutor do Senai, é o oferecimento de um plano de carreira dentro da empresa. Por mais que a empresa seja de pequeno porte, a dica de Fernandes é promover diferenciação de cargos e mostrar para o colaborador que há possibilidades de evolução profissional. “O mecânico precisa ter expectativas de crescimento na empresa”, diz o instrutor.

Bonificações e investimentos diretos no profissional também podem trazer bom retorno, segundo os especialistas.

Apostar na formação é outra saída para suprir essa lacuna de reparadores. Natal conta que empregou alguns jovens mecânicos em formação pelo Senai com o intuído de contribuir com a formação de novos mecânicos. “Isso foi importante para os jovens estudantes sentirem como é o dia a dia de uma oficina”, diz o empresário. Hoje, segundo Natal, a Megacar está buscando parcerias com escolas técnicas para incentivar o ingresso de novos profissionais. “Em associação com outras oficinas, estamos colocando em prática um projeto que visa distribuir ilustrações [sobre a profissão de mecânico] nas escolas – os chamados mangás – para mostrar que há um lado positivo nessa área”, revela Natal, que hoje conta com quatro colaboradores, sendo que há três anos eram 12 profissionais.

Fonte: Revista Mercado Automotivo

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